Logo nos primeiros dias em Cuba, eu me deparei com uma realidade econômica que modifica o comportamento humano afetivo. Lá, por conta do embargo, não há a possibilidade de comprar e consumir. Explico melhor com um exemplo. Onde me hospedei, havia muitos móveis antigos, colchões e travesseiros velhos, muita coisa com pelo menos 3, 4, 5 décadas de uso, que se fosse no Brasil, já teriam sido trocadas. Tudo muito conservado, em ótimas condições, sem rasgões, sem furos, com aparência de bem cuidado, ainda que velho.
Acabei me acostumando, nos onze dias naquele país, a ver tudo com os olhos da conservação. Nos carros lindos que vi na rua, da década de 50, 60... nos detalhes das casas, nos utensílios de cozinha... tudo me remetia ao antigo, ao passado.
E aos poucos fui percebendo como aquele povo lida com essa impossibilidade de consumir, de trocar o velho pelo novo, de simplesmente jogar fora o que já tá com cara de usado, porque a novidade se faz anunciar pela publicidade do descartável.
Há, no capitalismo selvagem que vivemos, a descartabilidade inerente ao consumo. A falta de cuidado e conservação, além do exercício da recuperação do que tá estragado e a reciclagem. O que não percebemos é que esse comportamento consumista que troca tudo, faz com que tenhamos uma atitude assim para com a cultura, valores, pessoas. Em Cuba percebi mais humanidade, solidariedade e preocupação com o outro e tenho cá pra mim, essa distância do consumismo é que torna aquele povo tão especial.